02/12/2016


Texto de  autoria de Filipe Pereira – do site Vortex Cultural

Atenção, o texto a seguir contém spoilers. Leia por sua própria conta e risco!

Muito se esperava do capítulo da saga Star Wars, em especial depois da compra dos direitos da Lucasfilms pela Disney. As expectativas eram positivas, em especial depois do lançamento de Vingadores e da certeza de que o conglomerado não influenciou negativamente os filmes da Marvel. O responsável pelo feito de seguir a saga de George Lucas sem o mesmo, foi J.J. Abrams, um sujeito claramente fã da franquia, mas que sempre negava a possibilidade de um dia comandá-la. Abrir mão desta promessa não poderia ser um acerto maior, já que Despertar da Força é uma aventura eletrizante, emocionante e reverencial.
A resposta da crítica de cinema mundial foi positiva, já que todo o clima de escapismo estava de volta ao filme. Se em aspectos políticos o episódio 7 deixa a desejar (fator comum aliás, a todos os outros seis filmes) em conteúdo, substância e textura, The Force Awakens acerta demais. Há quem diga que este seria uma refilmagem de Uma Nova Esperança. Exceção feita clara aos muitos easter eggs e ao começo trajetória dos três personagens novos mais célebres – Rey, Finn e Kylo Ren – essa afirmação está equivocada, já que a Jornada do Herói sempre foi usada por Lucas em seus argumentos, e este certamente não é seu demérito, inclusive nos filmes em que sua mão pesa.
A direção de Abrams é contida. Saem as cenas repletas de cacarecos visuais e ganham cenários amplos, que visualmente demonstram que os tempos são outros, já que em um planeta inóspito, moram os “esqueletos” do antigo império, tendo sobrado apenas um segmento extremo, mas ainda assim bem tímido se comparado a glória e domínio antes instaurada por Palpatine. Reside em Snoke, o líder supremo da Primeira Ordem, a figura de vilão, e muitos mistérios envolvem a figura executada digitalmente por Andy Serkis, bem como de seu aluno celébre, o cavaleiro Kylo Ren (Adam Driver), cujo parentesco com personagens do passado o credencia a Vader da rodada.
As figuras antigas tem seu papel de importância, e curiosamente se vêem em posições de conforto, como Leia Organa (Carrie Fischer), que retorna ao posto de general da Resistência (novo nome de Rebelião) e Han Solo (Harrison Ford), que volta suas forças novamente para o contrabando, após as decepções da vida familiar que teve. O caráter do antigo cafajeste claramente mudou, já que sobra a ele a figura de mentor dos jovens Finn (John Boyega) e Rey (Daisy Ridley). O tal “despertar” certamente se refere a esta dupla, que é a nova geração da luta contra as forças malignas, comandadas por um negro, dissidente do lado sombrio, e por uma mulher, catadora de sucata, órfã e exímia piloto, onde qualquer semelhança com os arquétipos de Han, Luke e Leia não é coincidência, ainda mais se incluir na equação a figura de Poe Dameron (Oscar Isaac), o melhor dos pilotos do esquadrão rogue, que tem uma participação breve, mas suficiente para demarcar carisma e para introduzir o droid BB8, que tem uma função narrativa importante.
Mesmo as revelações bombásticas são executadas no início, exatamente para não correr o risco de o filme de J.J. parecer mera cópia dos episódios primordiais. O parentesco de Kylo  com Leia e Han faz eco com a versão do primogênito Jacen Solo, que também foi seduzido pelo lado negro, o que faz demonstrar o apreço do autor pelas histórias paralelas que a Disney desconsiderou do novo cânone. Apesar de alguns pequenos problemas de concepção, o vilão não compromete o todo dos antagonistas.
Os defeitos estão por conta de algumas motivações, em especial Han Solo, que seguindo a lógica, devia estar melhor instalado do que um simples contrabandista, podendo ocupar uma vaga de mafioso, como era Jabba antes dele, ou de empresário, como era seu “substituto” Lando. A personalidade que Han Solo dá a sua figura compensa até esta péssima ideia, dando sentido até a problemática situação conjugal com Leia.
A jornada pensada por Joseph Campbell ganha ares épicos em Despertar da  Força, sem necessidade de tratar seu público como rasteiro, sem apelar para saídas tão fáceis como a pecha e “escolhido” ou para romances sem carisma. A obra que contém o roteiro primordial de Lawrence Kasdan, que trabalhou as idéias de Lucas no episódio V e VI, resgata o mesmo clima aventuresco das matinês dos anos setenta, unindo um argumento simples, bem amarrado, que dosa bem ação, emoção e descompromisso com mensagens mais elaboradas.
A cena final faz lembrar figuras de mentores, aproximando Mark Hammil e seu personagem mais celebrado, a figura do lendário Ben Kenobi, a mesma capaz de incitar um jovem desmotivado a enfrentar todo um sistema tirânico, capaz de gerar em um coração desolado a fé em uma força maior que é maior que tudo e que envolve todos. É este tipo de magia que foi resgatada em Despertar da Força.

Outras críticas do especial Star Wars:
Ameaça Fantasma
Ataque dos Clones
Vingança dos Sith
Nova Esperança
Império Contra Ataca
Retorno de Jedi

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