Texto de autoria de Filipe Pereira – do site Vortex Cultural
Muito se esperava do
capítulo da saga Star Wars, em especial depois da compra dos direitos da
Lucasfilms pela Disney. As expectativas eram positivas, em especial depois do
lançamento de Vingadores e da certeza de que o conglomerado não influenciou
negativamente os filmes da Marvel. O responsável pelo feito de seguir a saga de
George Lucas sem o mesmo, foi J.J. Abrams, um sujeito claramente fã da
franquia, mas que sempre negava a possibilidade de um dia comandá-la. Abrir mão
desta promessa não poderia ser um acerto maior, já que Despertar da Força é uma
aventura eletrizante, emocionante e reverencial.
A resposta da crítica de cinema mundial foi positiva, já que todo o clima de escapismo estava de volta
ao filme. Se em aspectos políticos o episódio 7 deixa a desejar (fator comum
aliás, a todos os outros seis filmes) em conteúdo, substância e textura, The
Force Awakens acerta demais. Há quem diga que este seria uma refilmagem de Uma
Nova Esperança. Exceção feita clara aos muitos easter eggs e ao começo
trajetória dos três personagens novos mais célebres – Rey, Finn e Kylo Ren –
essa afirmação está equivocada, já que a Jornada do Herói sempre foi usada por
Lucas em seus argumentos, e este certamente não é seu demérito, inclusive nos
filmes em que sua mão pesa.
A direção de Abrams é
contida. Saem as cenas repletas de cacarecos visuais e ganham cenários amplos,
que visualmente demonstram que os tempos são outros, já que em um planeta
inóspito, moram os “esqueletos” do antigo império, tendo sobrado apenas um
segmento extremo, mas ainda assim bem tímido se comparado a glória e domínio
antes instaurada por Palpatine. Reside em Snoke, o líder supremo da Primeira
Ordem, a figura de vilão, e muitos mistérios envolvem a figura executada
digitalmente por Andy Serkis, bem como de seu aluno celébre, o cavaleiro Kylo
Ren (Adam Driver), cujo parentesco com personagens do passado o credencia a Vader
da rodada.
As figuras antigas tem
seu papel de importância, e curiosamente se vêem em posições de conforto, como
Leia Organa (Carrie Fischer), que retorna ao posto de general da Resistência
(novo nome de Rebelião) e Han Solo (Harrison Ford), que volta suas forças
novamente para o contrabando, após as decepções da vida familiar que teve. O
caráter do antigo cafajeste claramente mudou, já que sobra a ele a figura de
mentor dos jovens Finn (John Boyega) e Rey (Daisy Ridley). O tal “despertar”
certamente se refere a esta dupla, que é a nova geração da luta contra as
forças malignas, comandadas por um negro, dissidente do lado sombrio, e por uma
mulher, catadora de sucata, órfã e exímia piloto, onde qualquer semelhança com
os arquétipos de Han, Luke e Leia não é coincidência, ainda mais se incluir na
equação a figura de Poe Dameron (Oscar Isaac), o melhor dos pilotos do
esquadrão rogue, que tem uma participação breve, mas suficiente para demarcar
carisma e para introduzir o droid BB8, que tem uma função narrativa importante.
Mesmo as revelações
bombásticas são executadas no início, exatamente para não correr o risco de o
filme de J.J. parecer mera cópia dos episódios primordiais. O parentesco de
Kylo com Leia e Han faz eco com a versão do primogênito Jacen Solo, que
também foi seduzido pelo lado negro, o que faz demonstrar o apreço do autor
pelas histórias paralelas que a Disney desconsiderou do novo cânone. Apesar de
alguns pequenos problemas de concepção, o vilão não compromete o todo dos
antagonistas.
Os defeitos estão por
conta de algumas motivações, em especial Han Solo, que seguindo a lógica, devia
estar melhor instalado do que um simples contrabandista, podendo ocupar uma
vaga de mafioso, como era Jabba antes dele, ou de empresário, como era seu
“substituto” Lando. A personalidade que Han Solo dá a sua figura compensa até
esta péssima ideia, dando sentido até a problemática situação conjugal com
Leia.
A jornada pensada por
Joseph Campbell ganha ares épicos em Despertar da Força, sem necessidade
de tratar seu público como rasteiro, sem apelar para saídas tão fáceis como a
pecha e “escolhido” ou para romances sem carisma. A obra que contém o roteiro
primordial de Lawrence Kasdan, que trabalhou as idéias de Lucas no episódio V e
VI, resgata o mesmo clima aventuresco das matinês dos anos setenta, unindo um
argumento simples, bem amarrado, que dosa bem ação, emoção e descompromisso com
mensagens mais elaboradas.
A cena final faz lembrar
figuras de mentores, aproximando Mark Hammil e seu personagem mais celebrado, a
figura do lendário Ben Kenobi, a mesma capaz de incitar um
jovem desmotivado a enfrentar todo um sistema tirânico, capaz de gerar em um
coração desolado a fé em uma força maior que é maior que tudo e que envolve
todos. É este tipo de magia que foi resgatada em Despertar da Força.
Outras críticas do
especial Star Wars:
Ameaça Fantasma
Ataque dos Clones
Vingança dos Sith
Nova Esperança
Império Contra Ataca
Retorno de Jedi