por KIKO MACEDO
Quem é Damian Wayne?A resposta para esta pergunta está no ano de 1994.
Criado
por Karl Kesel e Tom Grummett, o Superboy apareceu pela primeira vez – ao menos
esta versão do personagem – no arco “O retorno do Super-Homem”.
Nascido
nos laboratórios do Projeto Cadmus, o garoto conquistou não só os céus de
Metrópoles, como também as páginas da série. Sua aceitação foi tão gloriosa,
que ainda naquele ano, a DC lançou o título solo do herói.
Diferentemente
de seus antecessores – Superboy Pré-Crise e Superboy Prime – que retrataram o
início da carreira do Super-Homem ainda em sua adolescência – carreira muito
mais que heroica, diga-se de passagem – , este irreverente rapaz jamais foi SUPERBOY,
ele nasceu SUPERMAN.
Com a
morte do herói, vários foram os que se apresentaram como seus substitutos, seja
por motivações egoístas, como foi para Luthor, Projeto Cadmus e Henshaw, ou por
estímulos altruístas, como demonstrou Aço e até mesmo o próprio Erradicador, mas
o fato é que independentemente de seus reais objetivos, todos eles, ainda que
momentaneamente, acabaram por aplacar a ferida aberta e dar, tanto aos
personagens da série, como também aos seus leitores, a ideia de que um novo
amanhã era plenamente possível.
Em
posse do DNA Kryptoniano extraído do corpo – furtado – do Superman, o Projeto Cadmus, sob a ordem e supervisão de seu coordenador, Westfield, deu início a um
processo de clonagem do herói, o qual foi precocemente
interrompido, trazendo então à vida um Super-Homem
adolescente, com 16 (dezesseis) anos de idade.
Eu sou
SUPERMAN!
Tal
sentença, para o desencanto do jovem, não durou muito tempo.
Encucado
com o quê ou quem de fato seria o rapaz, o já restabelecido Super-Homem, garantindo
a sua segurança, convenceu o garoto a acompanhá-los – Superman e Harper, mais
conhecido como Guardião, enviado a princípio para a sua captura, sob ordens
diretas de Westfield – até os laboratórios do Projeto Cadmus com o objetivo
único e exclusivo de encontrar respostas às suas perguntas. E de fato encontrou:
o menino nunca foi seu clone.
“Eu sou clone do Super-Homem! Tenho de ser! Eu... eu posso voar! Tenho superforça! Balas não me machucam...”, disse Superboy. “É verdade, mas não tem superaudição, nem os poderes visuais...”, disse o cientista. (Superboy #1)
O fato
é que as técnicas de clonagem terráqueas eram inúteis em organismos alienígenas.
Todavia, o campo telecinético descoberto ao redor do corpo do herói, aliado a
um clone geneticamente modificado para apresentar suas características físicas,
foi a combinação perfeita para que se obtivesse a mais fiel cópia do samaritano,
e a partir daí, Super-Homem renasceu.
Apesar
de ser um excelente garoto, Metrópoles era uma cidade pequena demais para a atuação
de dois heróis, razão pela qual Super-Homem sugeriu ao guri que procurasse
lugares onde seus poderes fossem de fato necessários, mas daquela hora em
diante, como Superboy, pois afinal de contas, havia apenas um Superman. Foi então
que, para o desagrado do agente Sam Makoa, Superboy fixou residência no Havaí.
O herói
mirim passou por diversas modificações ao longo dos anos. Recebeu a identidade
secreta de Conner Kent, primo de Clark Kent. Ganhou um nome kryptoniano:
Kon-El. Encarou a morte de sua primeira namorada, Tana Moon. Fundou a Justiça
Jovem ao lado de Robin Vermelho e Impulso. Desenvolveu novos poderes –
lembrando que no início de sua carreira, seus poderes visuais advinham dos óculos
que lhe foram exclusivamente produzidos pelo Professor Hamilton. Descobriu que
50% de sua estrutura genética pertencia a Lex Luthor. Morreu em Crise Infinita. E por fim, ressuscitou –
crédito à Legião dos Super-Heróis.
Em sua
cronologia, principalmente após a morte de Tana Moon, é nítida a mudança do
personagem no que diz respeito a sua maturidade. Ele foi aos poucos deixando de
ser aquele guri atrevido, brincalhão e até mesmo irresponsável. A mudança de
seu uniforme também foi marcando ponto no decorrer deste processo. Há muito
tempo de sua morte, Superboy já se havia isolado na fazenda dos Kent.
Tudo
bem, mas aí o leitor pergunta: O que tudo isso tem a ver com Damian Wayne? A
resposta para esta pergunta está na mente de um certo escocês.
GRANT MORRISON
A
primeira aparição do filho do Batman foi no ano de 1987, no arco intitulado
“Son Of The Demon” ou “Batman – O Filho do Demônio”, como foi chamado aqui no
Brasil.
No
final deste arco, o filho do morcego acabou sendo entregue para adoção e nada
mais foi falado até o momento em que Morrison, aproveitando o gancho deixado
pelo argumentista Mike Barr, criou Damian Wayne.
Notem
que o nome do garoto é uma clara referência ao título da primeira obra em que
foi citado: “Son Of The DEMON”
– “DAMIAN”.
Tanto
faz sentido – agora viajando um pouco na maionese – que no filme “A Profecia”,
o nome do garoto retratado como o anticristo era DAMIEN, ou seja, Damian, Damien, Demon,
Demônio, tem tudo a ver.
É inegável
que grandes escritores, ainda que inovem em certos pontos, buscam inspiração em
seus companheiros de teclado – de pena, como se dizia antigamente – e que por
vezes, tal inspiração, ultrapassa todos os limites e acaba por se transformar em
uma nova roupagem, por assim dizer, da ideia, do personagem, enfim, daquilo que
foi buscado como referência. Com Morrison aconteceu exatamente isto quando
resolveu criar esta nova versão do menino prodígio.
É
inegável que Damian Wayne é a “reencarnação” do Superboy da década de noventa.
Assim
como Superboy foi criado em laboratório para substituir Superman, Damian Wayne
foi igualmente criado em laboratório para substituir Batman;
Da
mesma forma que Superboy não admitia ser assim chamado no início de sua
carreira, autoproclamando-se Superman, Damian Wayne autoproclamou-se o legítimo
herdeiro do manto do morcego, chegando a quase matar Tim Drake;
Assim
como Superboy, Damian Wayne agia como um anti-herói mimado, desobediente,
agressivo, impulsivo, dotado de um humor ácido e totalmente irresponsável;
Da
mesma maneira que Superboy inovou o visual dos quadrinhos com seu uniforme
irreverente, Damian Wayne trouxe uma nova roupagem para o Robin, a começar pelo
capuz que tanto adora;
Assim
como o cão Krypto foi por Bibbo enviado ao Havaí para junto do Superboy, Damian
Wayne resgatou um cachorro, uma vaca e foi por Alfred agraciado com um gato;
Da
mesma forma que Dubbilex e Tana Moon foram importantíssimos para o
amadurecimento de Superboy, Alfred e
Dick Grayson tiveram o mesmo papel na vida de Damian Wayne;
Para
acabar – e esta é de matar – , assim como Superboy foi morto por um outro
Superboy – Superboy Prime – , Damian Wayne foi morto por outro Damian Wayne – O
Herege.
E não
acaba por aí!
Marc Andreyko, deu continuidade
às “referências” de Morrison, e assim como Superboy, Damian Wayne ressuscitou.
Aliás, não só ressuscitou, Peter Tomasi encarregou-se
de dar superpoderes ao herói mirim. Ainda que por pouco tempo, Robin voou, teve
superforça, invulnerabilidade, assim como Superboy.
Há quem diga que Damian Wayne foi inspirado na personalidade arredia de
Jason Todd, entretanto, do ponto de vista deste escritor, é irrefutável que
Grant Morrison era um imenso fã do Superboy da década de 90 (noventa) e que na
primeira oportunidade, reviveu o herói, todavia, com a identidade de Robin.
A RECEPÇÃO DO NOVO ROBIN
A aceitação da nova roupagem atribuída ao parceiro mirim do Batman não foi unânime, a
bem da verdade, a opinião sobre quem foi o melhor Robin é muito dividida.
Alguns preferem as habilidades e o jeito descontraído de Dick Grayson.
Outros a pancadaria de Jason Todd. Alguns idolatram Tim Drake, afirmando que
dos Robins, ele é o que mais se assemelha ao Batman quando levadas em
consideração suas qualidades de detetive. A questão é que muitos (arriscaria dizer
que a maioria dos fãs) detestam
Damian Wayne, não por sua origem, mas sim por sua personalidade, por seu ego
inflado.
O fato é que os tempos de outrora nunca mais retornam. Aquele menino
superpoderoso da década de 90, que agradou as crianças e os adolescentes da
época, pode não ser a melhor visão de herói para a juventude de hoje. A mim – e
aí deixo a minha opinião – , esta nova versão me remete aos tempos de criança,
em que Superboy representava tudo aquilo que eu queria ser: poderoso, descolado,
independente e tudo isso, com apenas 16 anos de idade.
CURIOSIDADES
Após a morte do Super-Homem, Superman passou a ser uma marca registrada
de propriedade da Rex Leech Empreendimento. Após o seu regresso, o Homem de
Aço, com a condição de que metade das rendas fossem doadas à caridade, permitiu
que os Leech continuassem a deter a marca, impondo, ainda como condição, que
seu “clone” passasse a utilizar o nome de Superboy.
Voltando às influências de Grant Morrison, outro fato que corrobora o que foi aqui escrito, é a ideia chave de seu último grande arco da DC Comics, no Brasil intitulado “Multiverso”. Em sua obra, que na verdade é uma conclusão daquilo que ele veio desenvolvendo ao longo de seus trabalhos para a editora, muito antes de “Crise Final”, inclusive, o escocês afirma serem as revistas em quadrinhos realidades paralelas, ou seja, que todos os personagens, lugares, cotidiano, enfim, que tudo ali escrito e desenhado representa a existência real de um outro universo. Pois bem, adivinhe o leitor onde esta ideia foi pela primeira vez cogitada? Exatamente isso, nas mensais da revista de aço do Superboy, no arco “Quando Mundos Colidem”. Coincidência?!
Outra coisa interessante, é que apesar de Superboy biologicamente
possuir 16 anos de idade, quando de sua criação, o herói possuía uma idade
mental muito inferior, podendo-se comparar com a de Damian Wayne quando
introduzido no universo da DC.
Os poderes do Superboy provinham de sua “telecinésia táctil”. Outros
poderes similares ao de Superman foram incorporados ao personagem muito tempo
depois sob o pretexto de que seus genes kryptonianos ficaram saturados da
radiação do nosso sol amarelo.
Como grande fã de Kick Ass, sinto a obrigação de dizer que Hit Girl, ao
menos para mim, é a versão feminina de Damian Wayne.
O FUTURO DO MENINO PRODÍGIO
De fato, esta fase pré-rebirth está trazendo muitas coisas legais sobre o Robin em si. Atualmente temos uma gangue de Robins e futuramente será apresentada – se já não foi – a Guerra dos Robins. A questão é que muitas coisas novas serão trazidas pelo Universo Rebirth e Damian Wayne, personagem relativamente novo, sofrerá inúmeras mudanças e quem sabe, caia finalmente na graça da maioria dos fãs de quadrinhos.